Paróquia Nossa Senhora Aparecida
Literatura e Espiritualidade
 
29.Jun - O tempo...
 O tempo...


Escrever, para mim, é um desafio, as palavras não fluem com tanta facilidade. Mas, enfim, escolhi falar sobre o tempo.


            Ah...o tempo!


            Não sabemos o quanto de tempo teremos, não sabemos nada sobre o tempo. Muitas vezes adiamos a felicidade para um tempo que não viveremos. Adiamos planos, adiamos a vida...quando os filhos crescerem, quando tiver o emprego dos sonhos, quando me aposentar e por aí vai...


            A literatura, como a arte das palavras, faz muitas referências ao tempo. Vejamos:


A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.


Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…


E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.


(Mario Quintana)


 


            Sempre que leio ou ouço esse poema, faço algumas reflexões sobre o tempo e sua transitoriedade constante em nossas vidas.


            Na escritura sagrada também há passagens que falam sobre o tempo. Uma que sempre me marcou muito está em Eclesiastes 3. 1-8, onde está escrito que há um tempo para tudo, tempo de nascer e de morrer. Tempo de chorar e tempo de sorrir. E a vida é assim mesmo, há um tempo para tudo...


            Cada momento de nossas vidas é um determinado tempo. Haverá ali, naquele momento, certas particularidades que certamente não teremos oportunidade de vivenciá-las em outra ocasião.


            Eu, hoje, vivo além de outros momentos, a infância e adolescência de meus filhos. Muitos anseios, um turbilhão de acontecimentos e muitos afazeres. Mas, antes de tudo devo enxergar a beleza desses dias, a preciosidade desses momentos únicos em minha vida e na deles também. Agora, tenho saudades do que vivi ontem, quando eu era a criança, a adolescente na casa de meus pais. Cada um de nós deve viver e “degustar” o seu momento.


            A vida é assim, lembro-me sempre de uma música, que gosto muito, do cantor Lulu Santos que diz que “a vida vem em ondas como o mar. Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Essa ideia vai ao encontro da frase do filósofo grego Heráclito: “ Não se entra duas vezes no mesmo rio”. E eu só concordo com isso tudo.


            Uma conhecida canção da banda Legião Urbana diz que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você para pra pensar na verdade não há”. Nós precisamos pensar assim mesmo, muitas vezes na correria da vida nos esquecemos da efemeridade do tempo. E é por isso que precisamos nos envolver com a arte, pois músicas, poemas, filmes e livros nos relembram, por exemplo, dentre muitas outras coisas da fluidez do tempo e da vida.


            No filme que também é livro, Alice através do Espelho, há a seguinte fala da personagem Alice:


 “ Eu pensava que o tempo era um ladrão, que roubava tudo que eu amava. Mas... agora vejo que você dá antes de tomar, e cada dia é um presente, cada hora, cada minuto, cada segundo.”


            Sim, recebemos um “presente” do tempo a cada segundo, minuto, horas, dias e assim por diante. Precisamos apreciar esses presentes com os “olhos do coração”, contemplando na pequenez dos acontecimentos diários a beleza da vida.


            Lembrando que:


                                   “Todos os dias quando acordo,


                                   Não tenho mais o tempo que passou


                                   Mas tenho muito tempo


                                   Temos todo o tempo do mundo.”


                                   (Legião Urbana – Tempo Perdido)


 


            Afinal:


                        De que são feitos os dias?


                        - De pequenos desejos,


                        Vagarosas saudades


                        Silenciosas lembranças.


                                   (Cecília Meireles)


Não, definitivamente o tempo não é um ladrão, ele deve ser nosso amigo e companheiro.


Referências bibliográficas:


QUINTANA, Mario. Nova Antologia Poética. 9. ed. São Paulo: Globo, 2003.


Meireles, C. (2005). Canções. São Paulo: Nova Fronteira. (Originalmente publicada em 1956).


 


Valéria Cristina Silva Rocha Pinheiro


Professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual João Belo de Oliveira



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