O TURÍBULO, A NAVETA E O INCENSO
O turíbulo é um pequeno fogareiro suspenso por correntes, no qual se queima incenso. Ele representa o coração do homem ardendo no fervor a Deus. Vemos isso já com Durandus, um teólogo dominicano da Idade Média (sec. XIII). Ele transcreve em um escrito seu uma oração usada em sua diocese para quando o sacerdote colocava incenso no turíbulo antes do Evangelho:
Que Deus acenda nossos corações junto à fragrância de inspiração celestial para ouvir e cumprir os preceitos do seu Evangelho
O significado do turíbulo como o coração do homem ardendo em amor a Deus pode ser explicado da seguinte maneira: Quando o homem está em comunhão com Deus e com grande fervor, seu coração é como um turíbulo aceso, com brasas. Deitando-se incenso, isto é, a oração, o coração do homem exala um odor agradável a Deus, isto é, a santidade. E essa santidade se espalha onde ele está, assim como a fumaça do incenso. Para manter o turíbulo aceso, é necessário que ele seja constantemente movimentado ou soprado pelo coroinha. Sem o movimento ou sopro, o turíbulo apaga devagar. O movimento aqui representa a meditação, o estudo, o trabalho, o apostolado, o cumprimento das virtudes católicas. Sem elas, devagar o coração que, antes estava em estado de fervor no amor a Deus, vai se apagando.
O incenso, por sua vez, é uma resina que quando queimada solta uma fumaça de odor agradável que possui uma densidade peculiar . Essa resina é tirada da seiva das plantas da família das terebintáceas. Vemos o incenso nas Sagradas Escrituras aparecerem várias vezes. Além dos já conhecidos significados de aromatização e de purificação contra os demônios, sendo o incenso um sacramental, destacam-se três, que demonstram os outros três significados: Adoração, Honra e Oração.
1. Adoração
Na oferta do incenso pelos Magos ao Menino Jesus (Mt 2,11) vemos o significado de culto. Com aquele incenso, os magos ao mesmo tempo honravam e adoravam o Menino Jesus, utilizando-se do incenso como instrumento de culto lautrêutico, isto é, de adoração.
Sempre se diz que os três presentes dos Magos a Nosso Senhor exaltam suas três características: O ouro, como Rei. O incenso, como Sacerdote, e a mirra, como profeta, o Cristo. Aqui vemos, portanto, o uso do incenso como uma honra a alguém sagrado. Por isso a Igreja utiliza o incenso para honrar os sacerdotes, as relíquias, as imagens e mesmo o povo.
Aqui está o significado mais belo do incenso. Vemos no salmo 141 e na aparição dos 24 anciãos no Apocalipse. Vamos ver estes dois textos.
Salmo 141: Suba até vós, Senhor, a minha oração como o incenso à vossa presença. Elevem-se minhas mãos como sacrifício vespertino.
A outra é do livro de Apocalipse:
E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono.
E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus.
Nessas duas passagens vemos a associação do Incenso com a oração dos santos. Por que essa relação? A fumaça que sai do incenso é perfumada, isto é, pura e agradável a Deus. Mas o simbolismo por trás do uso do incenso se revela, sobretudo, em como a fumaça sobe aos Céus. É de uma maneira lenta, graciosa, fazendo várias curvas enquanto sobe. Não é uma subida arrogante como a fumaça produzia por outros materiais, mas de uma maneira humilde. Aqui está o significado do incenso como a oração dos santos: Nossa oração deve subir a Deus como o incenso, de maneira humilde, mas confiante.
A naveta é objeto que porta o incenso. Normalmente em forma de barca, de onde vem seu nome. Sempre é acompanhada por uma colherinha, com a qual se deita o incenso no turíbulo. A naveta começou a ganhar uma forma de navio durante a Idade Média. Isso ao mesmo tempo significava duas coisas: a primeira é a lembrança da Igreja como a “Barca de Pedro”; a segunda é que nossa vida espiritual deve ser sempre um “caminho”, daqui às Mansões Eternas. O navio simboliza esta mobilidade.
Um pouco de história…
O uso do incenso é antiquíssimo, anterior à própria vinda de Cristo. As primeiras menções ao seu uso provavelmente vem dos egípcios, no III milênio a.C.. Seu uso sempre foi relacionado à aromatização e purificação do ambiente e a uma oferta “de odor agradável” à divindade. Os hebreus, por exemplo, utilizavam amplamente o incenso no Templo de Jerusalém, onde havia o “altar do Incenso”, no qual era queimado continuamente o incenso em tributo a Deus. (Cf. Ex 30; Lv 16,12)
Talvez por ser amplamente utilizado entre os pagãos, a Igreja nos seus primeiros anos evitava o seu uso dentro da Liturgia, para fazer uma distinção clara entre a liturgia pagã e a liturgia cristã, em particular porque o incenso oferecido aos deuses pagãos era uma grande traição à fé, e vários santos foram torturados e martirizados por se recusarem a fazê-lo. (Como S. Cassiano, S. Policarpo, S. Dinis, S. Cristina, S. Jorge e muitos outros). Vemos, no entanto, o incenso sendo usado como sinal de honra e oração por um defunto, como podemos ver no Testamento de Santo Efrén, no ano 373.
Uma vez que foi destruído o paganismo, a partir do século IV o incenso começou a ganhar um espaço maior na Liturgia, sobretudo nas dedicações do altar. A primeira igreja a receber o incenso foi a igreja do Santo Sepulcro, e então o uso foi se espalhando. A primeira aparição formal do incenso em Roma é do século VII, como gesto de honra ao papa e ao Evangeliário. Dentro da Missa, o incenso começou a ser utilizado por volta do século IX, no início da Missa, de modo similar como é hoje: Altar, clero, oblatas. Isto se fazia se passando o incensário (Uma espécie de vaso onde se queimava o incenso) à frente dos objetos e das pessoas. Isso foi se desenvolvendo até chegar ao modo como temos hoje. A naveta também foi ganhando sua forma de “navio” a partir desta época.
Fotógrafo: Pascom
Fonte: Autor - Héder Soares Peixoto